Eduardo Poulain

''Eu ando indefinido, cansado da dúvida, de jogar esse jogo insatisfatório que nunca tem final, que só me consome, consome, sem me dar nada em troca, essa agonia de não saber se é de verdade, ou se um dia vai ser, ou se nunca foi. Eu busco a sanidade, o que passa longe e despercebido de mim, essa insanidade constante, visível e geral me assusta, e me instiga a provar dela. Saber que gosto tem. Mas algo me diz que ela me levará, me afastará de mim. E disso eu corro insano. Escondo com garras maternas os valores que cá dentro foram acumulados, cultivados, o que ninguém pode me tirar, o que é meu, o que eu sou. Que venho catando nesses dias desprovidos. Desprovido seria a palavra certa. Desprovido até de mim, há dias que me dispo, me perco, me dissolvo, mergulhado no silêncio estéreo do próprio sepulcro apercebido. Em busca de uma não realidade, uma amnésia momentânea, uma forma de me proteger, amortecer. Correr antes de ser apreendido com marretada de realidade que ponha fim ao tormento. Seria uma saída, mas a dor me assusta. Põe-me em estado de alerta. Um perigo. Enfurecido. Carecido. ''
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