Eduardo Poulain
Hoje eu posso, eu posso querer você, eu quero você, você é minha, não me perca, me queira também.
Eduardo Poulain





- Ali, ó, aquele menino branco! Olhos enferrujados e boca sem cor, sentado, escrevendo. Os seus olhos são alegres, Ize.

Victor, sem qui, me causa arrepios. Eu, que não sou meu nome, me orgulho ao falar o dele. Eu tenho sonhado contigo, moço. Os meus olhos te seguem. E eu amo tudo que você é. Do astigmatismo a cicatriz no polegar direito, a cara que você faz quando tenho crises de riso ou tento pegar um gato magrelo na rua. Gosto dos pés, da forma apertada dos olhos ternos e da boca levemente curvada, enquanto me olha. Gosto da raiva, da gargalhada alta - quando ele ri, meu coração acelera - do curvado da sobrancelha grossa e escura, quando fica sério, gosto dos lábios finos, alinhados, dos olhos grandes quando me pede, me ama. Das pernas roliças e desproporcionalmente lindas. Eu sempre vi carinho nos xingamentos dele. As palavras ditas ao pé do ouvido, perto o bastante, para que a sua respiração quente me atingisse, enquanto suas mãos grandes percorressem meu corpo lascivamente, provocando arrepios instintivos. Eu perdi a vergonha, você me ganhou. As minhas golas desarrumadas são propositais, meu amor. Bem vindo, Victor, ao meu lado da estrada. Estrada não tão nova assim, almas femininas? Tanto faz. O nosso amor é puro. E à noite, eu não tenho medo. Piegas. Estar aqui é estranho, quando te imagino. Não tenho um retrato preto e branco no qual estamos felizes, e mesmo assim, nos vejo. É aqui em casa que os meus olhos sorriem. Quero teu violão ao pé da cama, chega, empurra os móveis pros cantos da sala e bagunça todos os meus livros, me abre as janelas, que quero ver o mundo contigo. Vem, vem me levar embora daqui, menino príncipe, se não, te roubo pra mim.

“Mas eu amo esta vida na terra, Morgan, e amo você com um amor mais forte do que a morte e, se o pecado é o preço de nossa união, vida após vida através das idades, então pecarei alegremente e sem lamentar, pois isso me leva de volta a você, minha amada!”

As brumas de Avalon – pág. 71.