Eduardo Poulain


Sabem, sempre fui um menino sem sal. Daqueles com hora marcada nos dedos pra ser feliz. Hora contada nos dedos pra comer, dormir ou atingir o que ainda viria. Sempre fora de uma coisa por vez ou por toda vez. Uma espécie de apenas céu ou terra; amor ou ódio; fogo ou água; marrom ou bege. A vida como comer pão de apenas um recheio e um copo de água – certo, reto, em linha – Sem dúvidas abrangentes com vozes interiores berrantes em vários tons de ser na mente. Não havia azul turquesa, azul esmeralda, azul piscina, azul tiffany’s, azul isso, azul aquilo, apenas azul, pronto, acabou. Um azul que segue sempre sobre a cabeça reta, enquanto se anda a vida como se deve ser andada reta, de passos lentos emitindo sons de um passado que tornar-se-há futuro reto, desconfiando de qualquer torto sentado na beira da esquina.

Um dia ousei absurdamente sentar numa beira torta de esquina. O necessário foi apenas virar-me torto, era algum zumbi estranho de dentro do peito. Virei, virei, virei que até um dia chegou e o tal tinha virado pelo contrário o de dentro pra o torto de lado de fora. E o que era um se tornou sempre 2 com três; marrom com bege e vermelho; água queimada. Céu na terra; amor odiado; estrada de areia. Nada infinito. Tudo vindo a partir do que soprava a vida pelo lado torto e estranho dos planejamentos de sanduíches com mais de um recheio ousado que fazem mal pra o coração. Na vida bandida de ( ) eu agora sou o próprio prisioneiro da cegueira eterna de esticar os braços ao infinito. Enquanto gritos vezes amor/dor cortam o coração sangrando sonhos na sala de liberdade, cada vez mais cheio de pulsos do coração e asas de corpo voador.

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