Eduardo Poulain

Alí, Ize, o menino de boca sem cor voltou, seus olhos estão diferentes.

Eu sei dos dois sinais que você não gosta, também sei a cara que você faz ao ligar o chuveiro, acordar, o som que você faz pouco tempo antes de adormecer. O cheio sobre o canto direito boca, que é diferente do esquerdo, o cheiro ao redor do olho e o da bochecha, perto do nariz. Reconheço quando as pálpebras inferiores estão um pouco avermelhadas - o que significa que você está triste. Sei exatamente cada movimento ao comer, vestir ou pentear. Ouvi cinco ou seis vezes como a tesoura o feriu causando a cicatriz no joelho direito. Sei a posição de como gosta que fique o seu cabelo, como gosta do meu e como gostaria que ambos fossem. Sei onde as suas costas doem. Sei com precisão do formato das coxas, panturrilhas, braços, peito, dentes, mãos e pés. Já senti todos com a língua. Gosto de tudo! Gosto dos beijinhos durante o dia. Sei do espremer das sobrancelhas, caírem dos olhos e lábios curvados-em-u-de-cabeça-para-baixo ao me chamar. Também sei que tudo nem sempre foi assim. É impossível não perceber o quanto você mudou desde os seus dezenove anos, te reconheço, porque eu também mudei. O meu novo eu se adaptou ao que você se tornou, meu grande – antes pequeno – príncipe. Já aprovei todos os defeitos e convivo com cada um deles.

Me faça cantar a última estrofe da música francesa clichê sem chorar, porque eu tenho você. Eu te amo.