Eduardo Poulain


Ele estava comigo na noite passada, conversamos. Não me lembro de todas as partes da conversa, mas eu havia dito tudo, e ele também. Ele de uma forma mais desesperada, eu de uma forma mais cautelosa, minha forma costumeira de lhe dar com as coisas. Foi uma noite doce. A companhia dele era sempre agradável, tão lindo. Observava-o e ele nem imaginava. Gostava quando o cabelo dele ficava levemente pro lado esquerdo, combinava com o sorriso. Os gestos largos e descuidados, tão dele. Não me deixou só, me sentia querido, me sinto, na verdade.

Eu o quis, eu desejei fazer parte dele, mas o meu querer o machucaria, sentia. Ele estava lá tão meu, resisti, mas isso me doía, meu Deus, você me dói. Fiquei um tempo respirando, puxando força. Nunca fui covarde, mas hoje a força existia como rei, sem olhar pra trás. Você me quis e não teve medo de falar, de demonstrar. Você teve coragem de deixar que o pouco que sentia crescesse. Isso é louvável.

Ele chorava no meu peito, sem saber que a minha dor era maior que a dele, eu que sempre fui forte não consegui mais assumir o tal papel e logo a minha dor saiu sem que eu a controlasse, e chorei, choramos juntos. Ele pedia que eu não o deixasse. Como poderia eu o deixar? Nunca fui, de fato, só o olhava de longe.

Eu estava tomando uma decisão. Não por mim, mas pelo novo que ele ainda não conseguia controlar. Estamos livres das pressões invisíveis que as nossas almas causam uma na outra. Não vou embora. Somos pessoas melhores juntos.

Quando a noite acabou me sentia mais leve, mas sentia que ia perdê-lo. Fiquei quieto, meu silencia logo viraria arrependimento, em algum momento alguém saberá disso. O que sentia por ele ainda estava ali, mas sem culpa, sem angústia a me tapar o peito.

No outro dia nos abraçamos de uma força intensa e beijamos um a face do outro, o que me provocou arrepios, ele não percebeu. O ar estava solto, sem densidade, e eu não desejei estar em nenhum outro lugar. Ele ainda me tem.

Eduardo Poulain


Decidi desistir, não, desistir não, é uma palavra feia de significado muito forte, e não se aplica ao que eu quero de verdade. Diria descansar, isso, descansar. O escuro não me assusta mais como antes, e as assombrações que outrora me arrancavam pânico, hoje não passam de sombras de um objeto qualquer, o medo se foi. As especulações sobre qualquer coisa me perturbam a um ponto que me pergunto se vale mesmo à pena. Decidi deixar ir de mim essa realidade feita de ilusões. As noites não são mais apreciadas com antes, há outros vícios que me roubam. É, eu cresci! Pena ter perdido parte da inocência e o modo único que uma criança ver as coisas, nesse período, lamento bastante. O instinto de sobrevivência rouba isso. Me dizem que isso é “crescer”, mas não acredito que seja bem assim. As músicas continuam fazendo falta e uma parcela de pessoas se foi. Correr pro sol se tornou hobbie , alguma coisa tem que ficar quente. Não que uma frieza se instale, mas o congelamento de lágrimas não caídas existe e passam a fazer parte dessa realidade feita de ilusões, que a deixo aqui, hoje, agora.

Eduardo Poulain


Um pouco de afago em dias normais

E sonhos em dias sem sono, acordados

Cantarei o mais alto que eu puder

E fugirei com o primeiro abraço

Morarei com a felicidade

Velarei meus passos, pra poder me perder

Meus olhos, em busca de outros olhos

Um brilho, a procura de um sorriso

Sorriso sendo partido

Olhas tão fiéis

Tão juntos

Tão amáveis

Velados