Eduardo Poulain




‘’Meu Deus, a que ponto venho suplicar a minha perda. Tenho que abdicar do meu eu pra ser supostamente feliz, esconder, matar, sei lá, os meus sentimentos. Porque uma pessoa que tem sentimentos é destruída instantaneamente e brutalmente nas mãos das más pessoas. Porque eu tenho que desacreditar que a vida é boa só porque existem pessoas más? Elas têm esse direito de arrancar de mim o meu eu? Forçando-me a ser como elas, más, ríspidas, insensíveis, uma máscara?Meu Deus, não era pra ser assim, não era. Porque não posso me assumir fraco, vulnerável em situações de agonia?Sempre mantendo a porra do sorriso falso nos lábios?E a insegurança, que tem?É essa a graça? Foi pra isso que evoluímos tanto?Pra viver em meio a um grande teatro, onde todos assumem um papel cabível e aceitável pela sociedade?’’

Nós somos o que tememos, somos os nossos segredos. Ninguém sabe do que precisa até encontrar.


Eduardo Poulain

''Eu ando indefinido, cansado da dúvida, de jogar esse jogo insatisfatório que nunca tem final, que só me consome, consome, sem me dar nada em troca, essa agonia de não saber se é de verdade, ou se um dia vai ser, ou se nunca foi. Eu busco a sanidade, o que passa longe e despercebido de mim, essa insanidade constante, visível e geral me assusta, e me instiga a provar dela. Saber que gosto tem. Mas algo me diz que ela me levará, me afastará de mim. E disso eu corro insano. Escondo com garras maternas os valores que cá dentro foram acumulados, cultivados, o que ninguém pode me tirar, o que é meu, o que eu sou. Que venho catando nesses dias desprovidos. Desprovido seria a palavra certa. Desprovido até de mim, há dias que me dispo, me perco, me dissolvo, mergulhado no silêncio estéreo do próprio sepulcro apercebido. Em busca de uma não realidade, uma amnésia momentânea, uma forma de me proteger, amortecer. Correr antes de ser apreendido com marretada de realidade que ponha fim ao tormento. Seria uma saída, mas a dor me assusta. Põe-me em estado de alerta. Um perigo. Enfurecido. Carecido. ''
Eduardo Poulain



"Não sei se é ausência de pernas, ou de mim. Não sei se é ausência de chão.Eu sei que é um amolecimento das formas, um derramar das coisas. Um desmaio. Umdesmaio. Um suspiro sem corpo. Um bicho. É ser um bicho ou um vento. Tantoquanto pessoa na tempestade. Ou não ser. Ou ser nada e vazio." Trecho dofilme Nome Próprio, Camila.

Desde que vivo isso-aqui-não-sei-o-quê eu sinto uma Camila viva gritante dentro de mim. Bem forte, aumentando de volume, amplitude e intensidade sem ter dia nem vento certo, intermitente. Uma de tantas que carrego comigo. Ela procura por ela mesma, nas palavras, nos outros, no tudo que é prazer pra aquele corpo dono de um coração abestado. Abastado.

Eu sinto. Eu tenho.

Disritmia de sentido. E sinto num segundo o que não sentia há horas, dias. Um bicho brabo. Um furor. Meu bicho tem pavio curto, vezes não dura nem um dia, ele já tá querendo morder o mundo de novo.

Eduardo Poulain


Catando e selecionando as dores, sim, dores eu tenho o luxo de escolher com qual ficar. São tantas! Lembro bem de como consegui cada cicatriz, cada história e como me tornei mais forte ao longo do tempo, como uma construção, uma casa, um amontoado de gritos abafados, um muro, no qual tornou o comodismo fixado no peito, e a satisfação com o normal.

É assim que tenho que viver mais 60 anos?Essa vida penosa, fedida e sem expectativa demelhora? Onde só somos castigados, mastigados, por um bicho que nem sabemos de onde vem, um sacrifício em vão, porque tudo se acaba acabando, só o fim nos resta, e que graça teve viver e colecionar tristezas, comparar o álbum demomentos felizes e tristes, pra chegar a conclusão que não fomos felizes e nem fizemos o bastante? Onde o destino nos prega peças de mau gosto?Que maldito! E mais uma vez se sentir angustiado e querer fazer diferente? Eu não acredito mais em destino. Não, não era pra ser assim.'

Eduardo Poulain


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'Sabe quando um dos seus dentes está caindo lentamente, e você não percebe, e então só nota quando esta realmente caindo. E então um dia você não tem mais dentes.'
[Filme - Onde vivem os monstros.]
Eduardo Poulain


'Por que uma hora te dar chão e noutra arrancar forte e brutal sem dor e piedade aquilo queuma vez te deu afago? É isso? É essa a graça? Fazer um jogo estúpido e imoral de plantar lágrimas secas nos rostos daqueles que sentem? Construir um vão de repulsa, raiva, rancor. Que um dia vai ser decorado com faces vermelhas e punhos deslocados. O dia que sai da gaveta o sentimento "preto" emforma de gesto traçado. O dia que não quero ver chegar, tapando olhos com mãos e coração com garras.'
Eduardo Poulain
'Nada mais doloroso do que descobrir que a nossa capacidade de ser feliz é limitada, e que aquele sentimento bom logo vira ânsia de um desgosto, desgosto aquele que nos coloca em busca de um novo motivo a sorrir, nunca estando satisfeito. Sempre roubando do outro a felicidade, baseando-a no outro, sempre no outro, uma forma egoísta de ficar bem, ninguém fica bem só, acho que por medo de ficar frente a sua consciência, seu eu de verdade, sempre escondendo-o entre risadas e desabafo alheio.'
Eduardo Poulain
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'O desespero me acorda pro andar sem pernas desse sentimento: ele me leva pra uma liquidificação de perguntas sem fim. É essa ausência de mim, ou talvez meus olhos que exergam pelo ângulo errado. Ainda torço, inutilmente, para ser a segunda alternativa. Nem sei ao menos se isso vai passar, nem sei o que é isso, mas eu sei que é meu, sempre foi. Sei que isso me apodrece, não de hoje, nem de ontem. Desde o primeiro choro escondido, o primeiro grito abafado no travesseiro daquela cama estúpida no chão. Sempre preferi o chão, a queda é menor, sabe? É feito um bicho, como aqueles cães de rua que te perseguem na roda do existir e criam um pacto na libertinagem deles - hoje eu não te abandono, senhora. hoje tua dor é angústia minha - e me fazem encoleirada deles, pra nunca mais abandonar.'

''Enquanto sofreres por mim tirará de mim a alegria dos olhos.''
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Eduardo Poulain
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'...olhou-se no espelho e sorriu como um animal, sem compreender que o sorriso não era para si próprio, mas para um outro.'

bonjour, Alice.
bonne nouit, Alice.
ces't la vie, Alice.
Eduardo Poulain

Uma sensação de que fecharam a porta dafrente, e só tenho acesso pela janelinha do vidro quebrado, a do lado esquerdode casa, aquela que entro e saio com cuidado pra não me ferir ou sujar o chãode sangue. Há dias em que sinto um amargar no peito que me instiga a entrar devez nessa janela e quebrar tudo sem me preocupar, só me jogar. Mas a porra dadúvida não deixa. Pelo menos não durante um tempo que fosse interrompido porqualquer coisa que sempre atrapalhava a chegada desse estado fulminante atémim. Oque fazer quando se estar cansado de ser a tristeza das pessoas? E aterrível angústia de não saber à hora de partir ou se deixar partir. O cansaçochega e o corpo pede um novo banho de revigoramento. Tenho tomado as minhasdoses diárias de amor, abraço quente , vindo de um corpo forte pra me protegere fraco o suficiente pra se deixar levar por mim. O que tem me feito chegar atéaqui.'

"Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tenho tentado da maneiramais bonita que eu sei.”

Eduardo Poulain

'Eu sou uma contradição, um misto, um conjunto de pedras indiferentes, um grito, um rosto que não quer ser máscara, uma angústia, um bicho. Não seria fácil me descrever, não sou uma coisa só, sou ela e o oposto dela, vício, falta, culpa. Meu coraçãoé menor que o mundo, muito menor, por isso me dispo, me grito, por isso gosto tanto de me conter, vejo, preciso. Acho que sou um personagem de mim mesmo, experimentando direções, sensações, eclosões... Uma subjetividade que rompe como absolutismo de qualquer conceito ou pré-conceito.'


"Enxergar o que temos diante de nossos narizes exige uma luta constante" George Orwell


''Esse é o início da minha dança que sempre acabou sem aplausos, assobios, vaias ou pedidos de bis. Apenas no fechar doloroso na cortina dos meus olhos.''